Cartazes

Cartazes

 

CARTAZES (Poesia)

 
Vivo numa cidade emoldurada
Pelos muros de concreto armado,
Por sobre a tintura e o recato,
Avisto cartazes retangulares e quadrados,
Figuras tão geométricas e limitadas quanto os que lêem
Atentos e animados

E em cada um destes letreiros,
Verdadeiros espelhos desta cidade,
De maneira mórbida,
Em tons de lilás e rosa,
Jaz de forma patente,
As mais sombrias propagandas e tantas banalidades diferentes
São bandas de pagode, duplas sertanejas
São grifes da moda, garotas propaganda
Fotoshop emprestando a perfeição que passa longe
Longe da miséria que estampa a cara de quem tem fome e sequer sabe ler
São bares, hotéis, boates
São shows de brega, shows de rock
Forro, apelação e desespero, com dançarinas seminuas
Mau gosto estampado,
Vitrines em papel quadrado,
Tudo à venda, tudo à mostra
Nada se esconde, à exceção do que, realmente, importa
São papas que são pops,
Pastores no horário nobre,
A interconectividade
Inclusive entre as operadoras de telefone
E tudo isto cabe num quadrado,
Confeccionado por gigantes esquadros,
Dentro do qual querem nos ver mergulhados,
Afundando, naufragando
E dia-a-dia a piscina se expande

Vivo numa cidade emoldurada
Mas vivo fora, vivo à margem
Dos outdoors que engolem e cospem
Nossa pobre – que se pensa nobre – sociedade.